Marcos Maciel

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Saúde, Atividade Física

Como a saúde é entendida na contemporaneidade?

Saúde, ao longo da história, tem refletido não apenas o estado físico do ser humano, mas os valores, medos e projetos de cada sociedade.

No primeiro artigo desta trilogia, vimos como o pensamento antigo e medieval construiu a saúde como harmonia com o cosmos, dom divino ou consequência moral.

No segundo, exploramos a transição para a modernidade, com o surgimento de explicações químicas, mecânicas e estatísticas para o adoecer.

Do século XIX em diante, a saúde passou a ocupar o centro de debates políticos, sociais e econômicos. O avanço da ciência, o crescimento das cidades, as guerras e a ascensão dos Estados-nação transformaram profundamente as formas de cuidar do ser humano.

O corpo passou a ser contabilizado, protegido e governado — não apenas pela medicina, mas por instituições públicas e internacionais.

Na contemporaneidade, saúde tornou-se um conceito coletivo, atravessado por dados, legislações e políticas de bem-estar. Mais do que ausência de doença, ela passou a representar um ideal de vida dígna, produtiva e participativa.

Este artigo final da série examina as transformações dos séculos XIX, XX e XXI e propõe uma reflexão: o que ganhamos — e o que deixamos para trás — ao transformar a saúde em um projeto técnico, estatal e global?

Reflexão: Quando a saúde se torna um direito e uma estatística, como manter vivo o cuidado humano em meio às lógicas institucionais?

Século XIX: a saúde como estatística e controle social

Industrialização e urbanização aceleradas marcaram o século XIX. A vida nas cidades industriais era marcada por condições insalubres, favelização, poluição e jornadas exaustivas de trabalho.

Revoluções burguesas, consolidação dos Estados nacionais e desigualdades sociais extremas impulsionaram novas preocupações com a sobrevivência das populações urbanas e operárias.

Saúde passou a ser compreendida como um indicador da vitalidade econômica e da ordem social. O adoecimento coletivo começou a ser tratado como problema de gestão urbana e de governabilidade.

Estatísticas tornaram-se ferramentas centrais. O estudo de taxas de mortalidade, condições sanitárias e distribuição de doenças permitiu a organização dos primeiros sistemas de saúde pública.

John Snow, ao mapear os casos de cólera em Londres, demonstrou a relação entre a contaminação da água e a disseminação da doença. Seu trabalho fundou a epidemiologia moderna.

William Farr, estatístico inglês, cruzou dados populacionais e causas de morte, revelando padrões de adoecimento relacionados às condições sociais e à localização urbana.

Edwin Chadwick, com relatórios sobre a saúde dos trabalhadores, mostrou que a doença não era apenas um destino individual, mas um reflexo direto da pobreza e da negligência pública.

Reflexão: Se a saúde é moldada pelo ambiente social, que papel têm as políticas públicas na preservação da vida?

Início do século XX

Modernização dos Estados e crescimento das indústrias consolidaram um novo papel do poder público no cuidado coletivo. Ao lado do nacionalismo e da ideia de progresso, surgiu a noção de que o Estado deveria proteger a população.

Saúde passou a ser tratada como um direito vinculado à cidadania. Políticas de seguridade social foram criadas para garantir assistência médica aos trabalhadores e prevenir a exclusão social causada pelo adoecimento.

Bismarck, chanceler alemão, instituiu em 1883 o primeiro sistema de seguro de saúde estatal. Essa medida inaugurou a vinculação entre trabalho formal e proteção social, influenciando vários países europeus.

Expansão da cidadania social consolidou-se no pós-guerra. Em 1942, o relatório de William Beveridge propôs um sistema universal de saúde financiado pelo Estado, o que levou à criação do NHS no Reino Unido.

Universalização do cuidado trouxe uma nova compreensão da saúde: não apenas um bem individual, mas um bem comum, sustentado por todos e garantido pelo Estado como expressão de justiça social.

Corpo e política se fundiram. O ser humano passou a ser reconhecido como sujeito de direitos, e sua saúde tornou-se uma questão de dignidade, igualdade e participação social.

Reflexão: Quando a saúde se torna um direito, que novas responsabilidades surgem para o Estado — e para cada cidadão?

Pós-guerra e OMS

Reconstrução global após a Segunda Guerra Mundial redefiniu prioridades internacionais. A criação de organismos multilaterais buscava prevenir novos conflitos e promover o bem-estar coletivo.

Saúde, nesse contexto, passou a ser tratada como direito humano fundamental. Em 1948, foi fundada a Organização Mundial da Saúde (OMS), com o objetivo de coordenar a resposta internacional a crises sanitárias.

Definição ampliada de saúde proposta pela OMS incluía o bem-estar físico, mental e social, rompendo com a concepção de saúde como mera ausência de doença.

Relatório Lalonde, publicado em 1974, reforçou essa visão multidimensional. Dividiu os determinantes da saúde em quatro categorias: biologia humana, meio ambiente, estilo de vida e serviços de saúde.

Saúde global tornou-se uma agenda comum. Campanhas de vacinação, combate a epidemias e a promoção da qualidade de vida passaram a integrar os planos de governos e instituições internacionais.

Críticas também surgiram. A definição idealizada da OMS foi considerada inalcançável em contextos de desigualdade social, e usada, por vezes, para justificar formas de controle estatal excessivo.

Reflexão: É possível garantir saúde plena em um mundo marcado por desigualdades estruturais?

Brasil e Constituição de 1988

Redemocratização do Brasil no final do século XX criou um novo horizonte para os direitos sociais. A luta por justiça, igualdade e acesso universal a serviços essenciais ganhou força com os movimentos sociais e sanitaristas.

Saúde, nesse contexto, passou a ser reconhecida como expressão da dignidade humana. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que a saúde é “direito de todos e dever do Estado”.

Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado para garantir acesso gratuito, integral e igualitário à população. O modelo articula prevenção, promoção e tratamento, envolvendo também a participação da comunidade.

Princípios do SUS — universalidade, equidade e integralidade — tornaram-se referenciais éticos e políticos. A saúde passou a ser compreendida como resultado de condições sociais, ambientais, econômicas e culturais.

Desafios persistem, como o subfinanciamento, desigualdades regionais e tensões entre o público e o privado. Mas o SUS permanece como uma das maiores políticas públicas de saúde do mundo.

Reflexão: O que significa viver em um país onde a saúde é um direito constitucional — e como podemos contribuir para fortalecê-lo?

O que mudou?

Saúde, em sua longa trajetória, assumiu diversos significados. Na Antiguidade, esteve ligada ao sagrado, à harmonia com o cosmos e à moralidade. Com Hipócrates e Galeno, surgiu uma visão naturalista e racional, centrada no equilíbrio dos humores e na observação clínica.

Durante a Idade Média, a saúde continuou a ser pensada em termos religiosos e morais, sendo a doença entendida como castigo ou provação. A medicina coexistia com práticas espirituais, e os cuidados estavam sob responsabilidade de ordens religiosas.

Na modernidade, a saúde foi progressivamente racionalizada. O ser humano passou a ser interpretado como máquina, e o adoecer, como falha funcional. A anatomia, a fisiologia e a observação empírica ganharam centralidade.

Com a Revolução Industrial e a urbanização, surgiram novos desafios sanitários. A doença passou a ser relacionada às condições de vida e ao ambiente urbano, dando origem à saúde pública moderna e à utilização de dados e estatísticas como instrumentos de controle social.

No século XX, a saúde se tornou um direito social. Modelos de seguridade surgiram na Europa, e a ideia de cidadania sanitária se fortaleceu. A OMS ampliou o conceito de saúde, incluindo bem-estar físico, mental e social.

No Brasil, a Constituição de 1988 consolidou o princípio de que a saúde é dever do Estado. O SUS representa um marco no reconhecimento da saúde como um bem coletivo, envolvendo prevenção, promoção e assistência universal.

Desde a publicação do artigo de Moacyr Scliar, em 2007, o mundo passou por novas crises e transformações. A pandemia de COVID-19 expôs desigualdades globais e fortaleceu a ideia de interdependência entre países, sistemas de saúde e condições socioeconômicas.

Tecnologias digitais se tornaram parte do cuidado, com prontuários eletrônicos, telemedicina e inteligência artificial. Ao mesmo tempo, cresce o debate sobre privacidade, acesso equitativo e a mercantilização da saúde.

Desigualdades persistem, e novas questões emergem: como cuidar da saúde mental em uma sociedade acelerada? Como garantir equidade em um sistema que ainda privilegia poucos? Como integrar saúde com meio ambiente, trabalho, educação e cultura?

O conceito de saúde ampliada, adotado no Brasil especialmente a partir das Conferências Nacionais de Saúde, propõe uma compreensão que vai além do modelo biomédico.

Essa perspectiva considera a saúde como resultado das condições de vida, acesso à informação, habitação, alimentação, trabalho, renda, meio ambiente, transporte e lazer. Essa abordagem valoriza a intersetorialidade e reconhece que o adoecimento é inseparável do contexto social.

Essa mudança de paradigma representou um avanço significativo em relação ao modelo centrado apenas na doença e no corpo biológico. A saúde ampliada estimula o fortalecimento da atenção primária, o vínculo entre profissionais e usuários e a construção coletiva de soluções nos territórios.

Ao mesmo tempo, é necessário criticar a crescente farmacologização da saúde. Muitos sofrimentos humanos são medicalizados sem considerar suas causas sociais, emocionais ou existenciais. A busca por soluções rápidas, via medicamentos, muitas vezes invisibiliza a complexidade da dor.

Humanizar o cuidado significa escutar o outro em sua totalidade, respeitar suas histórias e contextos, e oferecer acolhimento além da prescrição. A saúde, nesse sentido, é mais que protocolo: é relação, empatia e construção de sentido.

O desafio atual é manter a saúde como expressão de humanidade, não apenas como dado ou meta. É preciso valorizar o cuidado como relação, escuta e compromisso com o outro.

Pergunta ao leitor: O que você entende hoje por saúde? Como tem cuidado da sua e da do coletivo ao seu redor?

Fonte:
SCLIAR, Moacyr. História do conceito de saúde. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1): 29-41, 2007.

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Marcos Maciel (Ph.D)
Sou Ph.D. em Estudos do Lazer, e investigo as relações entre atividade física, saúde, bem-estar, espiritualidade, ócio e lazer.