Marcos Maciel

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10 marcos maciel
Esportes e Cristianismo

Entre a omissão e a urgência: onde está a teologia do esporte?

O esporte ocupa, hoje, um dos lugares mais proeminentes na cultura global. As práticas atléticas deixaram de ser meras atividades recreativas para se tornarem fenômenos de mobilização política, econômica, emocional e simbólica.

Nesse cenário, os Jogos Olímpicos se destacam como o maior evento esportivo do planeta, reverenciado por sua capacidade de reunir nações e consagrar atletas como heróis contemporâneos.

Por trás do brilho das medalhas, no entanto, há estruturas e contradições que merecem ser examinadas.

Foi com esse propósito que Watson e Parker (2013) realizaram um estudo teológico sobre os Jogos Olímpicos modernos, lançando luz sobre a forma como instituições esportivas se tornaram agentes de idolatria, desigualdade e manipulação simbólica.

Este artigo retoma e amplia a análise de Watson e Parker, questionando por que a teologia do esporte tem permanecido à margem desse debate.

O objetivo é contribuir com um olhar crítico sobre os caminhos de presença ética, discernimento cristão e pesquisa teológica no campo esportivo.

O ideal olímpico como promessa e performance

O movimento olímpico moderno foi fundado sobre o ideal de Olimpismo, formulado por Pierre de Coubertin no final do século XIX.

Mais do que um evento esportivo, os Jogos foram concebidos como uma filosofia de vida, baseada na união harmônica entre corpo, mente e espírito.

Coubertin acreditava que o esporte poderia regenerar sociedades, promovendo paz, disciplina e fraternidade entre os povos.

Esse ideal, contudo, incorporou desde cedo elementos de religiosidade secular. Watson e Parker observam que os rituais olímpicos — como o acendimento da tocha, o juramento dos atletas e o hino oficial — configuram uma espécie de liturgia civil, com forte apelo emocional e simbólico.

Em vez da transcendência cristã, o que se celebra é a glória humana e a fé na técnica, no mérito e na superação.

Reflexão: em que medida o Olimpismo se tornou uma religião alternativa, oferecendo redenção por esforço e identidade por desempenho?

Neutralidade em questão: o palco e o palanque

Apesar do discurso oficial de neutralidade, os Jogos Olímpicos têm sido, historicamente, usados como instrumentos de afirmação política.

Desde Berlim 1936, passando pelos boicotes da Guerra Fria, até as recentes edições em regimes autoritários, o evento tem servido para legitimar governos, silenciar dissidentes e encobrir violações de direitos humanos.

Watson e Parker apontam que o Comitê Olímpico Internacional (COI) atua com critérios ambíguos: negocia com cidades ou governos dispostos a bancarem a estrutura dos Jogos, mesmo que isso implique impactos sociais graves, como remoções forçadas, censura e exploração do trabalho.

Em vez de promover a paz, os Jogos, por vezes, acentuam desigualdades e operam como instrumento de dominação simbólica. A promessa de fraternidade cede lugar à propaganda.

Reflexão: como denunciar essas incoerências sem cair no cinismo? Qual o papel do cristão diante de uma estrutura que celebra a paz e legitima a opressão?

Economia olímpica: entre medalhas e mercados

A dimensão financeira dos Jogos Olímpicos cresceu exponencialmente nas últimas décadas. Os direitos de transmissão somam bilhões de dólares.

As marcas olímpicas tornaram-se ativos estratégicos no mercado global. O atleta é promovido como produto; a cidade-sede, como vitrine; e o espectador, como consumidor em potencial.

Watson e Parker alertam que essa mercantilização perverte os fins da prática esportiva. O que deveria ser espaço de formação moral e celebração da beleza atlética é transformado em palco de vaidade, status e lucro.

O marketing olímpico não vende apenas produtos — vende valores. E esses valores nem sempre são compatíveis com justiça, humildade ou solidariedade.

Reflexão: como sustentar uma ética do jogo limpo em um sistema que recompensa a imagem mais do que o caráter?

Prática esportiva versus estrutura institucional

Alasdair MacIntyre, filósofo escocês, propôs a distinção entre “prática” e “instituição”. A prática é uma atividade cujo valor está no bem que se busca ao realizá-la — como justiça, excelência, coragem.

Já a instituição é o sistema que administra a prática, e tende a privilegiar bens externos, como dinheiro, fama e poder.

Watson e Parker aplicam essa distinção aos Jogos Olímpicos. Eles reconhecem que a prática esportiva, quando bem orientada, pode refletir virtudes cristãs. Mas alertam que a estrutura institucional muitas vezes distorce essa prática.

A corrida por medalhas, a padronização de corpos e o culto ao sucesso profissional esvaziam o sentido original do esporte.

A competição se transforma em espetáculo e a celebração em comparação constante.

Reflexão: será possível recuperar a beleza do jogo em meio a tanta pressão institucional?

Diagnóstico de feridas sistêmicas

Watson e Parker identificam marcas estruturais que comprometem o testemunho ético dos Jogos Olímpicos. Entre elas:

  • Nacionalismo exacerbado: tabelas de medalhas reforçam disputas geopolíticas e rivalidades históricas.
  • Desigualdade de gênero: a participação feminina aumentou, mas a visibilidade, o apoio e as premiações ainda são desiguais.
  • Racismo estrutural: países do Sul Global têm menor representação, financiamento e cobertura.
  • Exploração do corpo: atletas enfrentam pressões físicas e mentais extremas, com impactos duradouros.
  • Espiritualidade substituída: o evento propõe uma transcendência sem conteúdo, uma glória que não redime.

Reflexão: reconhecer essas feridas é o primeiro passo para transformá-las. Mas quem tem coragem e legitimidade para isso?

O marxismo como crítica parcial: limites e alertas

No artigo original, Watson e Parker também recuperam autores marxistas como Brohm, Hoch e Scott, que analisam o esporte como ferramenta de dominação capitalista. Para eles, o corpo é disciplinado, a emoção é mercantilizada e a competição é convertida em ideologia.

Watson e Parker não endossam essa visão, mas reconhecem que ela oferece diagnósticos úteis. O marxismo, embora materialista e sem transcendência, consegue nomear o sofrimento coletivo e a estrutura opressora que a retórica olímpica oculta.

Reflexão: como o cristianismo pode assumir essa crítica, sem perder sua base teológica? E como propor esperança, quando a lógica do sistema parece insuperável?

Entre a omissão e a urgência: onde está a teologia do esporte?

Essa é a pergunta provocadora com a qual Watson e Parker encerram seu estudo. Por que a teologia cristã permanece praticamente ausente do debate sobre os Jogos Olímpicos, mesmo sendo este um fenômeno cultural de alcance simbólico, social e espiritual global?

Os autores apontam, de forma explícita, uma lacuna grave: a teologia e os estudos religiosos são quase invisíveis nos grandes fóruns que discutem o presente e o futuro do esporte globalizado.

Eles destacam, por exemplo, que dos 42 tópicos sugeridos por Pound para reformar os Jogos Olímpicos, nenhum aborda espiritualidade, fé ou ética religiosa. Trata-se de uma omissão institucional e acadêmica que denuncia um desinteresse histórico e sistemático.

Diante desse cenário, Watson e Parker encorajam a inserção de teólogos cristãos e estudiosos da religião nos estudos olímpicos e esportivos em geral, com o objetivo de oferecer uma contribuição sistemática e crítica ao campo.

Embora não detalhem agendas específicas de pesquisa, o texto sugere ao menos três frentes que precisam de maior atenção.

Este artigo, a partir da argumentação dos autores, propõe a seguinte organização para aprofundar esse campo:

  1. Reflexão teológica sistemática sobre o esporte — conforme sugerido pelos autores, é necessário desenvolver uma teologia do corpo, da virtude, da glória, da idolatria e da esperança no contexto do esporte de alto rendimento. Essa tarefa requer o envolvimento de teólogos sistemáticos e bíblicos que estejam atentos aos valores proclamados (e vividos) nas arenas esportivas.
  1. Contribuições éticas da fé cristã no debate público — de forma implícita, Watson e Parker questionam por que a fé cristã tem sido desconsiderada como referência ética em projetos de governança, políticas institucionais e propostas de reforma olímpica. A partir dessa crítica, este artigo infere a importância de uma teologia pública que dialogue com organizações esportivas, instituições educacionais e governos, propondo critérios como equidade, justiça, inclusão e sustentabilidade.
  1. Ampliação do engajamento teológico com a realidade esportiva vivida — embora os autores não explorem esse ponto em profundidade, seu apelo à presença cristã no campo do esporte permite inferir a necessidade de estudos empíricos e pastorais. Isso inclui pesquisar como atletas, técnicos, gestores e comunidades de fé vivem sua espiritualidade no universo competitivo, e como as igrejas podem desenvolver ministérios que cuidem, acompanhem e discipulem cristãos que atuam no esporte profissional.

A urgência, portanto, não é apenas acadêmica, mas pastoral, cultural e espiritual. O silêncio da teologia pode ser interpretado, na prática, como cumplicidade ou indiferença diante de um fenômeno que forma afetos, comportamentos e visões de mundo.

E se o esporte moderno molda o imaginário coletivo, a teologia do esporte precisa, com urgência, aprender a escutá-lo, analisá-lo e responder com discernimento.

Reflexão: o que a ausência da teologia nesse campo nos revela sobre nossas prioridades e omissões? Estaríamos ignorando uma das linguagens mais influentes da cultura moderna? E o que ganharia a Igreja — e o mundo — se nos dispuséssemos a habitar esse território com inteligência, humildade e fé?

Conclusão: teologia que vê, escuta e age

No primeiro artigo desta série, refletimos sobre o esporte moderno como espaço simbólico de tensão entre virtude e idolatria.

Reconhecemos ali o potencial do esporte para expressar beleza, comunhão e valores — e também seus riscos quando capturado por estruturas de vaidade, consumismo e autossuficiência.

Este segundo texto, por sua vez, aprofundou o olhar para os Jogos Olímpicos — não apenas como evento esportivo, mas como instituição global que organiza, representa e reproduz valores socioculturais de enorme influência.

Inspirados no estudo de Watson & Parker (2013), percorremos os pilares e contradições do Olimpismo: seu ideal humanista e sua liturgia secular; sua politização velada; sua mercantilização agressiva; suas feridas estruturais e a ausência persistente da teologia no debate.

A análise dos autores é clara e corajosa: os Jogos Olímpicos modernos não são apenas arenas de disputa esportiva, mas também templos simbólicos onde se celebra uma forma de redenção laica — construída sobre esforço, estética, nacionalismo e poder. Diante disso, o cristianismo precisa abandonar tanto o silêncio quanto a ingenuidade.

A crítica cristã aqui proposta não é destrutiva nem sectária. Ela é, antes, um chamado à lucidez, à presença e à esperança. Lucidez, para discernir o que há de verdadeiro e o que há de idolátrico no megaevento global.

Presença, para ocupar com ética e sabedoria os espaços onde se forjam afetos e narrativas culturais. E esperança, para propor alternativas fundadas na graça, na justiça e na reconciliação — valores que transcendem medalhas e rankings de audiência.

Por fim, ecoando o apelo de Watson e Parker, este artigo conclui com um convite direto: que a teologia do esporte deixe de ser exceção e se torne campo legítimo de pesquisa, reflexão e missão.

Que teólogos, pastores, pesquisadores e líderes cristãos reconheçam o esporte como linguagem cultural que precisa ser escutada com atenção, estudada com rigor e transformada com humildade.

Reflexão final: se o mundo reverencia o pódio como altar, a teologia cristã não pode se calar. Ela deve descer à arena, não para competir por glória, mas para anunciar — em meio à festa e ao conflito — que há uma verdade maior do que a medalha, uma justiça mais profunda que o resultado, e uma esperança que nem o ouro pode comprar.


Fonte:
Watson, N. J. & Parker, A. (2013). A Christian Theological Analysis of the Institutions and Governance of Sport: A Case Study of the Modern Olympic Games. Journal of Religion & Society, 15.

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Marcos Maciel (Ph.D)
Sou Ph.D. em Estudos do Lazer, e investigo as relações entre atividade física, saúde, bem-estar, espiritualidade, ócio e lazer.