Ao longo desta série, vimos como a atividade física pode — e deve — fazer parte de todas as fases da vida. Falamos sobre bebês, crianças, adolescentes, adultos e idosos, sempre com foco na prática possível e segura.
Agora, é hora de encerrar esse ciclo abordando três temas essenciais que envolvem a atividade física: inclusão, cuidado e educação. Este último artigo apresenta as orientações do guia para três grupos estratégicos: gestantes e puérperas, pessoas com deficiência e o espaço fundamental da escola.
Cada um com necessidades e potências específicas, mas todos com pleno direito ao movimento.
A atividade física não é apenas um recurso de saúde, mas um instrumento de dignidade e participação. Ela ajuda a gerar autonomia, promover vínculos e construir uma sociedade mais ativa e igualitária.
Garantir acesso ao movimento é, portanto, promover justiça e bem-estar coletivo. Nos próximos tópicos, você encontrará exemplos, orientações e caminhos concretos.
Vamos falar de corpo, cuidado, acessibilidade e educação — temas que mobilizam e transformam. Porque quando o movimento acolhe, ele não apenas fortalece: ele também inclui.
Atividade física para gestantes e puérperas
A gravidez e o pós-parto são fases marcadas por intensas transformações no corpo e na vida da mulher.
Nesses períodos, a atividade física é uma aliada importante para a saúde física e mental. Ela contribui para o bem-estar da gestante, do bebê e favorece uma recuperação mais equilibrada.
De acordo com o guia, gestantes sem restrições médicas devem ser incentivadas a se manter ativas. As recomendações gerais seguem as orientações para adultos: pelo menos 150 minutos por semana de atividade moderada, como caminhada, alongamento, dança leve ou hidroginástica supervisionada. Entre as práticas seguras e indicadas estão:
1. Caminhadas em ambientes planos e sombreados.
2. Alongamentos leves com foco na mobilidade e na respiração.
3. Exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico (como o exercício de Kegel).
4. Yoga e pilates adaptados para gestantes.
5. Hidroginástica com orientação profissional.
O início da prática pode acontecer mesmo para mulheres que eram sedentárias antes da gestação. Nesses casos, o guia sugere começar com 10 a 15 minutos diários e progredir gradualmente, até atingir o tempo recomendado, sempre com atenção aos sinais do corpo.
A partir do terceiro trimestre, é necessário redobrar os cuidados com equilíbrio e postura. Evitar posições que comprimam o abdômen, permanecer muito tempo deitada de costas, e evitar atividades com risco de queda ou impacto são orientações centrais para essa fase.
No puerpério, o retorno à atividade física deve ser feito com acompanhamento profissional. O tempo de retomada varia conforme o tipo de parto e o estado geral de saúde da mulher.
É importante valorizar movimentos leves, caminhadas com o bebê e exercícios de respiração. O guia também incentiva práticas que integrem o bebê à rotina ativa da mãe.
Passeios com carrinho, atividades de grupo com outras puérperas, ou mesmo alongamentos com o bebê no colo são exemplos positivos e afetivos.
A prática regular traz benefícios como:
1. Redução de dores lombares e inchaços.
2. Melhora do sono e do humor.
3. Prevenção da hipertensão gestacional e diabetes gestacional.
4. Redução de sintomas de depressão e ansiedade no pós-parto.
Movimentar-se nesse período não é sobre estética, mas sobre conexão, força e cuidado. Com apoio da equipe de saúde, da família e da comunidade, esse movimento é mais seguro e acolhedor. Porque quando a mulher se cuida, ela também fortalece o início da vida de quem está chegando.
Atividade física para pessoas com deficiência
Todas as pessoas têm o direito de se movimentar, expressar-se e cuidar da própria saúde. Para as pessoas com deficiência, a atividade física representa muito mais que um benefício físico. la é também caminho de autonomia, autoestima, sociabilidade e inclusão.
O guia destaca que as recomendações para esse grupo devem respeitar três princípios fundamentais: acessibilidade, adaptação e protagonismo. Ou seja, criar condições reais de participação, ajustar as atividades às necessidades específicas e valorizar a escuta e o desejo de cada pessoa.
As metas gerais seguem as mesmas recomendações dos adultos: pelo menos 150 minutos por semana de atividade física moderada, ou 75 minutos de intensidade vigorosa — ou ainda uma combinação dessas intensidades.
É importante que profissionais da saúde, do esporte ou da educação física ofereçam opções adaptadas, seguras e significativas, considerando a diversidade de deficiências. Cada corpo é único, e a abordagem deve ser centrada na pessoa — não apenas no diagnóstico.
O guia sugere diversas atividades que podem ser adaptadas, como:
1. Caminhada com apoio, cadeira de rodas ou dispositivos de mobilidade.
2. Natação adaptada, hidroginástica ou atividades em grupo.
3. Jogos recreativos com bola, corda, aros ou cones.
4. Dança, expressão corporal, alongamentos e exercícios com resistência elástica.
Também é possível incluir a atividade física no dia a dia de forma integrada: ajudando em tarefas domésticas, deslocando-se de forma ativa ou participando de eventos comunitários.
O importante é reconhecer que toda forma de movimento tem valor e merece ser incentivada. O guia reforça que pessoas com deficiência enfrentam barreiras adicionais: falta de acessibilidade nos espaços, escassez de equipamentos adaptados e preconceito social.
Superar essas barreiras exige compromisso dos profissionais, das famílias e do poder público. Outro ponto essencial é o apoio da rede de saúde e da educação.
Programas como o Núcleo Ampliado de Saúde da Família e o NASF podem acolher essas demandas. Além disso, instituições especializadas e coletivos locais também podem oferecer suporte ativo.
Mais do que adaptar práticas, é preciso transformar a cultura em torno do corpo com deficiência. Valorizar o movimento como expressão, não apenas como reabilitação, é um passo para a inclusão real.
Porque quando o corpo é reconhecido em sua dignidade, ele se move com liberdade e propósito.
Escola e educação física: lugar de movimento, valores e formação
A escola é um dos espaços mais potentes para incentivar o hábito da atividade física desde a infância. É ali que muitas crianças e adolescentes têm seu primeiro contato com o movimento estruturado, desenvolvem habilidades motoras, aprendem a conviver e a expressar-se com o corpo.
Segundo o guia, a educação física escolar tem papel central na formação para uma vida ativa. Ela não deve ser vista como aula “complementar” ou de menor importância, mas como um componente essencial da educação integral e da promoção da saúde.
Mais do que ensinar esportes, a educação física desenvolve valores como cooperação, respeito e solidariedade. Também contribui para a autonomia, autoestima, criatividade e compreensão do corpo em movimento.
É um espaço para brincar, descobrir, experimentar e aprender com o outro. O guia recomenda que as escolas garantam aulas regulares e de qualidade, com conteúdos diversificados, adequados à faixa etária e que respeitem as diferenças individuais.
Isso inclui atividades como jogos, danças, brincadeiras populares, circuitos motores e esportes. Durante o recreio e os intervalos, o movimento também deve ser estimulado. Espaços acessíveis, materiais variados e tempo suficiente ajudam a tornar esse momento ativo e lúdico.
É importante que os profissionais da escola incentivem a participação e valorizem a expressão corporal. Além das aulas e dos recreios ativos, a escola pode promover:
Projetos interdisciplinares envolvendo corpo, saúde e bem-estar.
1. Grupos de prática esportiva e lazer no contraturno escolar.
2. Oficinas, festivais ou gincanas abertas à comunidade escolar.
3. A inclusão também é um princípio fundamental da educação física. Todas as crianças e jovens, com ou sem deficiência, devem participar das atividades, com adaptações que garantam segurança, pertencimento e significado.
O papel da escola vai além do ensino técnico do movimento: ela forma cidadãos conscientes do valor da atividade física para sua saúde e sua vida. Por isso, precisa de apoio, valorização e investimento para ser realmente um espaço de transformação.
Atividade física: uma cultura ativa se constrói com todos
Ao longo desta série, vimos que a atividade física é muito mais do que mexer o corpo. É uma forma de expressar quem somos, cuidar da saúde, conviver com os outros e viver com dignidade. E, como aprendemos neste último artigo, ela também precisa ser inclusiva, acessível e justa.
Gestantes e puérperas têm o direito de continuar se movendo com segurança e apoio. Pessoas com deficiência merecem espaços e práticas que respeitem sua autonomia e diversidade. E crianças e jovens precisam de escolas que valorizem o corpo como parte essencial do aprendizado.
A atividade física é um direito de todos — e não deve ser privilégio de alguns. Por isso, construir uma cultura ativa passa por políticas públicas, redes de cuidado e ambientes adequados. Envolve a ação conjunta de famílias, profissionais, instituições e comunidades.
O Guia de Atividade Física para a População Brasileira é mais do que um conjunto de orientações técnicas.
É um convite à transformação de hábitos, à escuta do corpo e à superação das desigualdades no acesso ao movimento. Seu conteúdo nos mostra que há sempre uma forma possível de se mover — mesmo que pequena, mesmo que adaptada.
Adotar o movimento como parte da rotina é um gesto de cuidado com o presente e compromisso com o futuro. É ensinar às crianças, pelo exemplo, que o corpo é expressão de vida, não de culpa ou cobrança. É lembrar aos adultos que se mover pode ser prazeroso, e aos idosos que ainda é possível viver com leveza.
Promover a atividade física é um ato de saúde, mas também de cidadania. É incluir quem foi historicamente deixado de fora, criar políticas que respeitem os diferentes corpos, e defender que o bem-estar não é um luxo, mas uma construção coletiva, cotidiana e possível.
Finalizamos esta série com o mesmo espírito que nos guiou desde o início: o de inspirar escolhas conscientes, acolher diferentes histórias e mostrar que o movimento é para todos.
Fonte:
Ministério da Saúde. (2021). Guia de atividade física para a população brasileira. Secretaria de Atenção Primária à Saúde, Departamento de Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_atividade_fisica_populacao_brasileira.pdf