Guia de Atividade Física para a População Brasileira – um documento inovador
A atividade física é um direito e uma necessidade em todas as fases da vida. Muito além dos exercícios em academias, ela se expressa nos gestos cotidianos: andar até o trabalho, brincar com os filhos ou dançar ao som de uma boa música.
O Guia de Atividade Física para a População Brasileira, lançado pelo Ministério da Saúde, foi elaborado para aproximar esse tema da realidade das pessoas. Com linguagem acessível e recomendações práticas, ele promove saúde com inclusão e equidade.
O guia é fruto de um trabalho coletivo, fundamentado em evidências científicas e construído em diálogo com profissionais de saúde, educadores e a própria população. Seu objetivo é oferecer orientações claras para tornar a vida mais ativa, segura e prazerosa.
Dividido em capítulos conforme ciclos de vida e condições específicas — como infância, adolescência, vida adulta, envelhecimento, gestação e deficiência —, o documento será explorado em detalhes ao longo de uma série de artigos como este.
Nesta primeira etapa, apresentamos os fundamentos do guia: o que é atividade física, como reconhecê-la no dia a dia e por que ela importa. Também refletimos sobre o papel da sociedade, do poder público e das redes de apoio.
Atividade física não é privilégio nem obrigação, mas possibilidade concreta de cuidado. Com um pouco de informação, criatividade e vontade, ela cabe na rotina de qualquer pessoa.
É sobre isso que este artigo fala: movimento como escolha, saúde como construção diária.
O que é atividade física?
Nem todo mundo sabe, mas atividade física não é sinônimo de fazer exercícios ou ir à academia. Segundo o guia, é todo movimento do corpo que gasta energia acima do nível de repouso. Ou seja, atividades simples como caminhar, varrer a casa ou dançar já fazem diferença. Esses movimentos podem acontecer em quatro momentos do nosso cotidiano.
No tempo livre, por exemplo, quando você decide brincar com as crianças, jogar bola, dançar, nadar ou fazer trilha — tudo por prazer e escolha pessoal.
No deslocamento, quando você opta por ir ao trabalho a pé, de bicicleta ou patinete. Também conta quando empurra um carrinho de bebê ou maneja a cadeira de rodas. São formas ativas de ir de um lugar a outro, que substituem o uso do carro ou transporte motorizado.
No trabalho ou nos estudos, você pratica atividade física ao varrer, plantar, limpar, andar pelos corredores ou participar da aula de Educação Física. Mesmo tarefas simples, como subir escadas ou carregar objetos, já são formas de se movimentar.
E nas tarefas domésticas, como varrer, cozinhar, estender roupa, cuidar de plantas ou passear com o cachorro. Essas atividades também são formas legítimas de manter o corpo em movimento. O importante é reconhecer o valor do que já se faz — mesmo sem roupa de ginástica.
Outro ponto importante do guia é diferenciar dois conceitos: comportamento sedentário e inatividade física.
O comportamento sedentário é estar acordado, porém sentado ou deitado por muito tempo, como quando assistimos televisão ou usamos o celular por horas seguidas sem nos mover.
Já a inatividade física é não atingir a quantidade mínima recomendada de movimento por semana. Uma pessoa pode ser sedentária (passar muito tempo sentada) e ainda assim ser ativa, se cumpre os 150 minutos semanais de atividade física moderada, por exemplo.
Por isso, o guia sugere: a cada uma hora sentado, levante-se por cinco minutos. Tome água, vá ao banheiro, espreguice-se, mude de posição. Pequenas ações fazem grande diferença.
Mexer-se com frequência e com consciência é o caminho para uma vida mais saudável.
Como tornar a atividade física parte da rotina?
A principal barreira para muitas pessoas é achar que não têm tempo para se exercitar. Mas o guia mostra que a atividade física pode ser integrada aos pequenos momentos do dia.
Com um pouco de criatividade, é possível se movimentar sem mudar radicalmente a rotina. O primeiro passo é observar seus hábitos e perceber onde há chances de mover o corpo.
Pode ser subir escadas em vez de usar o elevador, andar até o mercado mais próximo, ou limpar a casa com mais vigor, dançando ao som de uma boa música. Planejar ajuda: identificar horários mais tranquilos ou escolher tarefas ativas no tempo livre.
Se você gosta de caminhar, que tal convidar alguém para fazer isso com você? A companhia torna a prática mais prazerosa e fortalece vínculos sociais.
Para quem trabalha sentado, o guia recomenda levantar a cada uma hora. Pode ser para ir ao banheiro, buscar um copo de água ou fazer um alongamento leve. São pequenas pausas que reduzem o comportamento sedentário e melhoram o bem-estar.
Outra dica importante: comece devagar e aumente aos poucos. Se não for possível fazer 30 minutos por dia, comece com 10.
O mais importante é persistir e respeitar seus próprios limites. Você também pode transformar momentos com a família em oportunidades de se mover. Brincar com as crianças, passear com o cachorro ou cultivar um jardim já fazem diferença.
A atividade física é mais do que exercício: é convivência, expressão e cuidado com o corpo. Para manter o hábito, escolha atividades que lhe deem prazer e tenham significado.
Não existe uma forma certa ou única de ser ativo: o melhor movimento é o que cabe na sua vida. O guia reforça: toda movimentação conta, desde que feita com frequência e intenção.
Redes de apoio e políticas públicas para a atividade física
Praticar atividade física é também uma questão coletiva, e não apenas de vontade individual. O guia reconhece que fatores como ambiente, renda, segurança e cultura interferem no movimento.
Por isso, para promover uma vida ativa, é essencial contar com redes de apoio e políticas públicas.
As unidades básicas de saúde podem ser grandes aliadas nesse processo. Muitas oferecem grupos de caminhada, atividades orientadas e incentivo à prática regular.
Programas como o Academia da Saúde são exemplos de ações que integram saúde e movimento. O guia também cita projetos como Saúde na Escola, Segundo Tempo e Esporte e Lazer na Cidade.
Essas iniciativas oferecem espaços, orientação e oportunidades para pessoas de todas as idades. A participação nesses programas fortalece os vínculos sociais e amplia o acesso à atividade física.
Além disso, escolas, universidades, clubes e instituições como o SESC e o SESI podem disponibilizar locais, equipamentos e profissionais para orientar a população. É importante conhecer os recursos da sua comunidade e fazer uso deles sempre que possível.
O apoio da família e dos amigos também conta muito. Convidar alguém para caminhar ou lembrar de se levantar do sofá já faz diferença.
Movimentar-se junto pode criar uma rotina mais leve e fortalecer os laços afetivos.
Outra recomendação do guia é dialogar com os gestores públicos locais. Você pode sugerir melhorias em calçadas, criar espaços de lazer ou ampliar horários de quadras.
Políticas públicas ativas precisam da participação das pessoas para fazer sentido e gerar impacto. Ambientes acessíveis, seguros e estimulantes são decisivos para o sucesso da promoção da saúde.
Quando há parques, ciclovias e ruas seguras, a atividade física deixa de ser exceção e vira hábito.
Assim, o cuidado com o corpo se transforma em cidadania e qualidade de vida para todos.
Movimento para viver melhor
O Guia de Atividade Física para a População Brasileira é mais do que um manual técnico. É um convite à vida em movimento, feito com linguagem acessível e foco em todas as pessoas.
Ele mostra que saúde e bem-estar podem — e devem — fazer parte da rotina de todos. Nesta apresentação geral, destacamos os conceitos centrais que sustentam essa proposta.
Compreender o que é atividade física, reconhecer seus diferentes momentos e intensidades, e refletir sobre o papel do comportamento sedentário já é um passo importante.
Mais do que metas numéricas, o guia propõe práticas possíveis, ajustáveis e inclusivas. Ele incentiva cada pessoa a encontrar, no seu tempo e contexto, formas de cuidar do corpo.
E lembra que o movimento pode ser prazeroso, afetivo e cheio de significado. Atuar com criatividade, observando as oportunidades de se mover ao longo do dia, transforma a atividade física em um hábito realista — e não em um peso ou obrigação.
Cada escada que substitui o elevador, cada ida a pé ao mercado, soma saúde à vida. Também reforçamos o papel das redes de apoio e das políticas públicas nesse processo.
Atividade física não é responsabilidade exclusiva do indivíduo, mas um compromisso coletivo.
Quando há espaços seguros e programas públicos, o direito à saúde se torna realidade. Cabe às famílias, escolas, comunidades e governos criar ambientes que favoreçam o movimento.
Um parquinho na praça, uma calçada acessível, uma aula bem planejada: tudo isso conta.
São decisões políticas e estruturais que ampliam o acesso e diminuem as desigualdades.
Nos próximos artigos desta série, iremos explorar as orientações específicas para cada fase da vida. Você encontrará recomendações práticas para crianças, jovens, adultos, idosos e populações específicas. Assim, o conhecimento ganha forma, aplicação e ainda mais proximidade com seu dia a dia.
E por que isso é tão importante? Porque ser ativo fisicamente melhora a saúde física e emocional, aumenta a disposição, melhora o sono, reduz o estresse e fortalece os laços com as outras pessoas.
É uma forma de autocuidado que não exige muito, mas oferece muito em troca. Incluir movimento no cotidiano não exige grandes mudanças, mas pequenas decisões consistentes.
Trocar o sofá por uma caminhada, a escada rolante pelo degrau, o celular por uma dança. Essas escolhas têm impacto real e transformador — hoje, amanhã e no futuro. O movimento é um recurso democrático: gratuito, adaptável, possível em qualquer lugar.
E o guia é um aliado precioso para lembrar que a saúde começa no passo seguinte. Porque o corpo é morada, e cuidar dele é uma forma concreta de celebrar a vida.
Fonte:
Ministério da Saúde. (2021). Guia de atividade física para a população brasileira. Secretaria de Atenção Primária à Saúde, Departamento de Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_atividade_fisica_populacao_brasileira.pdf