O artigo “Finding Stability Between Sports Ministry and Sports Ministry Management: A Church-Based Review,” de autoria de Jimmy Smith, traz à tona uma reflexão atual e necessária sobre o papel dos ministérios de esportes nas igrejas evangélicas.
Publicado em 2022, o estudo propõe um olhar mais apurado para os aspectos organizacionais e gerenciais que sustentam as ações pastorais ligadas ao ministérios de esportes nas igrejas evangélicas norte-americanas.
A pesquisa parte da constatação de que esses ministérios têm crescido de maneira significativa nos últimos anos, ganhando espaço em igrejas evangélicas ao redor do mundo.
Contudo, pouco se sabe sobre a forma como os ministérios de esportes nas igrejas evangélicas são estruturados e administrados, especialmente no que diz respeito às competências de liderança, planejamento, marketing e gestão financeira. Esse é o ponto de partida para o autor desenvolver sua investigação.
A lacuna teórica identificada está justamente na ausência de estudos que abordem o ministérios de esportes nas igrejas evangélicas sob a ótica da gestão. Enquanto há vasta literatura sobre os benefícios espirituais e sociais do esporte no contexto cristão, falta clareza sobre as práticas administrativas que sustentam esses ministérios.
Diante disso, o objetivo do artigo é explorar como os líderes dos ministérios de esportes nas igrejas evangélicas conduzem suas ações organizacionais no dia a dia. A pergunta norteadora da pesquisa é clara e direta: Como os programas de ministérios de esportes são gerenciados nas igrejas?
Ao comentar e apresentar o conteúdo deste artigo, buscamos fomentar uma discussão sobre o desenvolvimento ministérios de esportes nas igrejas evangélicas no Brasil.
Espera-se que essa reflexão incentive gestores e lideranças cristãs a pensar estrategicamente suas práticas organizacionais, promovendo um amadurecimento na formação e na gestão de ministérios que integrem eficientemente missão espiritual e competência administrativa.
Ministério de esportes nas igrejas evangélicas: Importância e Desafios
O artigo de Jimmy Smith apresenta uma revisão de literatura estruturada em quatro subtemas, buscando fundamentar teoricamente a necessidade de integrar fé e gestão dos ministérios de esportes nas igrejas evangélicas.
O primeiro subtema trata da formação desses ministérios. O autor resgata as origens históricas do esporte como prática social e espiritual, destacando o movimento conhecido como Muscular Christianity.
Essa corrente defendia a importância do esporte como instrumento de formação moral e religiosa, estabelecendo as bases para o futuro desenvolvimento dos ministérios esportivos em ambientes cristãos.
Organizações como Young Men’s Christian Association (YMCA) – Associação Cristã de Jovens – e Fellowship of Christian Athletes (FCA) – Associação Cristã de Atletas – surgem nesse contexto, promovendo esportes aliados à fé.
Em seguida, Smith aborda a pesquisa sobre os ministérios de esportes nas igrejas. A literatura aponta que esses programas esportivos contribuem para o evangelismo, o fortalecimento da fé e a integração comunitária.
Porém, o autor observa que há pouca investigação acadêmica sobre a eficiência e a estrutura organizacional desses programas, o que revela uma lacuna importante a ser preenchida.
O terceiro subtema trata dos gestores desses ministérios. Nessa seção, o autor descreve que esses líderes acumulam múltiplas funções: além de conduzir ações evangelísticas, precisam administrar programas esportivos complexos.
A ausência de formação gerencial específica aparece como um desafio recorrente, o que pode comprometer a estabilidade e o crescimento das iniciativas.
Por fim, Smith discute a necessidade de integrar a gestão esportiva nesses ministérios. Ele propõe que conceitos de liderança, planejamento estratégico, marketing e gestão financeira, comuns à administração esportiva secular, também sejam aplicados no contexto cristão.
Essa integração, segundo o autor, poderia trazer maior estabilidade e eficiência a esses ministérios.
A revisão de literatura, portanto, revela que embora esses ministérios sejam uma ferramenta eficaz de missão e evangelismo, ainda carece de uma estrutura administrativa sólida. Essa constatação fundamenta a relevância da pesquisa realizada.
Ministérios de esportes nas igrejas na prática
O estudo conduzido por Jimmy Smith utilizou uma abordagem qualitativa, com o objetivo de compreender como ocorre o gerenciamento dos ministérios de esportes nas igrejas locais.
Para isso, o autor entrevistou 21 líderes desses ministérios atuantes em diferentes contextos e denominações nos Estados Unidos. Os participantes tinham idades entre 24 e 59 anos e foram selecionados com base em sua experiência prática na área.
As entrevistas seguiram um roteiro semiestruturado, permitindo que os participantes compartilhassem livremente suas experiências e percepções. Os dados foram analisados por meio de categorias temáticas, que revelaram aspectos centrais da liderança, organização, planejamento e desafios enfrentados pelos gestores dos ministérios esportivos.
Entre os principais resultados, o estudo identificou que muitos líderes demonstram forte vocação espiritual e compromisso com a missão. A liderança apresenta clareza na definição da missão e dos valores do ministérios. Esses elementos contribuem para o engajamento da comunidade eclesiástica e o alinhamento espiritual das atividades.
Por outro lado, diversas fragilidades foram mapeadas. A maioria dos entrevistados afirmou não possuir formação em gestão financeira ou planejamento estratégico.
Questões como a ausência de marketing estruturado, a sobrecarga de responsabilidades e a dependência excessiva de voluntários também foram relatadas com frequência. Esses fatores impactam diretamente a sustentabilidade e o alcance dos ministérios.
Além disso, o estudo revelou que os programas são frequentemente organizados de maneira informal, sem processos sistemáticos de avaliação ou planejamento de longo prazo.
A gestão orçamentária depende, em grande parte, das inscrições dos participantes e do apoio da igreja local, o que torna os projetos vulneráveis a instabilidades.
De modo geral, os resultados destacam que esses ministérios, embora eficazes em termos espirituais, enfrenta desafios significativos no campo administrativo. Essas limitações comprometem sua estabilidade e dificultam o crescimento sustentável dessas iniciativas nas igrejas.
Discussão e considerações finais do estudo
Na discussão dos resultados, Jimmy Smith ressalta que os desafios enfrentados pelos gestores de ministérios de esportes nas igrejas evangélicas estão diretamente ligados à carência de formação específica em gestão.
Embora a maioria dos entrevistados tenha demonstrado liderança espiritual e envolvimento com a missão da igreja, faltam-lhes competências técnicas para o gerenciamento eficaz de programas complexos.
O autor observa que a ausência de processos estruturados compromete a continuidade das atividades, tornando os programas vulneráveis a instabilidades e dificuldades financeiras.
Muitos gestores relataram a dificuldade em recrutar e manter voluntários, bem como em organizar eventos que fossem sustentáveis a longo prazo sem uma estrutura adequada de marketing e captação de recursos.
Entre as principais habilidades apontadas como necessárias estão: elaboração de orçamento, planejamento de projetos, administração de pessoas e comunicação estratégica.
A falta dessas competências impacta diretamente a capacidade dos ministérios de expandirem suas atividades e alcançarem novos participantes.
A conclusão do estudo propõe que os líderes des ministérios sejam capacitados em princípios de administração aplicados à realidade eclesiástica.
Sugere-se a colaboração com instituições acadêmicas e programas de formação continuada que abordem ferramentas como marketing, gestão financeira, liderança e planejamento.
Embora o artigo não adote uma abordagem normativa ou pastoral, sua discussão reforça a importância de profissionalizar a gestão sem perder o foco espiritual.
O autor reconhece que os ministérios bem-sucedidos são aqueles que conseguem aliar paixão ministerial com competência técnica.
Em síntese, a discussão aponta que fortalecer a gestão dos ministérios de esportes nas igrejas é fundamental para garantir sua continuidade, estabilidade financeira e relevância no contexto da missão cristã contemporânea.
Aprendizagens para o contexto brasileiro
A análise do artigo “Finding Stability Between Sports Ministry and Sports Ministry Management: A Church-Based Review“, de Jimmy Smith, permite refletir, a partir das observações realizadas no estudo, sobre as exigências contemporâneas desses ministérios dentro do ambiente eclesiástico.
O estudo destaca que, além do fervor espiritual, a estabilidade desses ministérios depende de fundamentos administrativos sólidos e bem aplicados.
O conteúdo apresentado revela que a ausência de planejamento, a limitação de recursos e a sobrecarga dos líderes comprometem a continuidade de muitos programas.
A profissionalização da gestão, conforme sugerido pelo autor, não diminui o caráter espiritual do ministério, mas o fortalece.
Há um apelo à capacitação técnica, à cooperação entre instituições e à construção de estruturas sustentáveis.
Um dos pontos sensíveis observados no estudo é a dependência de voluntários para o funcionamento dos ministérios. Em muitos casos, esses colaboradores acumulam funções sem o devido preparo, o que acarreta não apenas desgaste pessoal, mas também descontinuidade nas atividades.
A rotatividade elevada e a falta de compromisso a longo prazo dos voluntários dificultam a manutenção de rotinas estruturadas e o acompanhamento sistemático das ações desenvolvidas.
Associado a isso, o artigo evidencia a carência de planejamento estratégico nas lideranças. A inexistência de metas de longo prazo, indicadores de desempenho ou mecanismos de avaliação afeta diretamente a sustentabilidade dos ministérios.
Sem um direcionamento claro, torna-se difícil ampliar o alcance das iniciativas ou garantir sua permanência diante de mudanças institucionais, econômicas ou comunitárias.
No Brasil, os ministérios de esportes nas igrejas evangélicas também têm se expandido de forma significativa. No entanto, ainda enfrenta obstáculos semelhantes aos apontados na realidade norte-americana, como a dependência de voluntariado, a escassez de formação específica e a ausência de planejamento de longo prazo.
A contribuição do artigo reside justamente em sua capacidade de estimular um olhar mais estratégico sobre essas práticas. As reflexões realizadas a partir do estudo em questão podem inspirar agentes cristãos no Brasil a investir não apenas na ação evangelística, mas também na solidez estrutural de seus ministérios esportivos.
Ao lançar luz sobre essa temática, o estudo de Jimmy Smith fornece subsídios importantes para o desenvolvimento de práticas ministeriais mais eficazes. A reflexão proposta convida os leitores a reconhecer o valor desses ministértios como expressão legítima da missão cristã, mas também a encarar com seriedade os desafios práticos de sua administração.
Promover a capacitação de líderes, fomentar redes de apoio interdenominacionais, criar recursos de formação em gestão e estabelecer planos estratégicos contextualizados podem ser passos importantes para a consolidação do ministério esportivo no Brasil.
A experiência documentada no artigo serve, assim, como espelho e como ponto de partida para avanços concretos em solo brasileiro.
Fonte:
Smith, Jimmy (2022) “Finding stability between sports ministry and sports ministry management. A church-based review.,” Movement and Being: The Journal of the Christian Society for Kinesiology, Leisure and Sports Studies: Vol. 7 : Iss. 1 , Article 4. https://doi.org/10.7290/jcskls07zibw Available at: https://trace.tennessee.edu/jcskls/vol7/iss1/4